quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Gigante Adormecido?



Muito se fala sobre a incapacidade do brasileiro para fazer coisas. Se diz que somos preguiçosos, que não queremos nada com nada, que fazemos errado, etc.
Contudo as coisas não são bem assim.
Tenho percebido, ao longo desses 31 anos, quase 4 deles na internet, que muitas coisas aqui no Brasil brotam do nada. De iniciativas particulares e não raro, viram referências em seus campos.
Como assim Fabiano?
Sendo mais claro: o Brasil é um país que não estimula as pessoas a fazerem nada de especial.
Não se tem estímulos maiores à leitura, nem a discussão racional, nem nada. Se tem alguma coisa, é um estímulo tímido pra caramba, quase não se nota. Exemplo bom de estímulo tímido é o concurso promovido para desenvolver jogos eletrônicos nacionais. Praticamente ninguém soube disso, e quem soube, não se sentiu inspirado a tentar, dado que o próprio concurso em si não tinha ânimo para se manter.
É um deserto, por assim dizer.
Além dessa falta de estímulo por parte do Estado, não raro, trombamos com a falta de estrutura. Quer dizer, vamos supor que você tem vontade de fazer algo. Um livro, como exemplo.
Você tem tudo digitado, impresso até. Você procura alguma editora. A avaliação de possibilidade de publicação do seu livro demora. Talvez porque os responsáveis sejam preguiçosos ou simplesmente não tenham tempo de avaliar os originais.
Vc engaveta seu livro por causa disso.
Outros impecilhos podem incluir burocracia, preço das coisas, má vontade e/ou um sistema viciado, onde se você não está incorporado a ele, não consegue fazer nada.
Como o Senado federal, por exemplo. ;-P
Enfim, é um cenário desolador. Não há estímulos, e quando você consegue fazer alguma coisa, você tromba com impecilhos. Às vezes, coisas pequenas, que poderiam ser resolvidas em 5 minutos, mas se arrastam por anos.
E em algumas outras vezes, esquemas enormes, que estão ali alimentando alguma coisa que normalmente não é bom que se saiba que está sendo alimentada ou mesmo que exista.
A ignorância é, as vezes, uma benção.
Mas, contrariando tudo isso, todo esse deserto, existem pessoas, instituições e mesmo particulares que conseguem fazer a diferença, e é deles que eu vou falar.
Meu exemplo particular: trabalho em um munícipio pequeno. A secretaria de saúde daqui tem aqueles problemas insistentes de cidade pequena: pouca gente para o trabalho, más condições do local de trabalho, ausência de comunicação entre os setores, entre outros.
No meu setor, trabalham 3 pessoas. Embora os entraves sejam enormes, marcamos exames e consultas especializadas nos Hospitais credenciados pelo SUS todos os meses, fazemos levantamente estatístico dessas coisas, e tudo que entra aqui é computado em bancos de dados improvisados para consulta posterior.
Não temos condições ideais de trabalho. Contudo, muita gente que vem aqui / deixa sua requisição de exame tem seu exame marcado.
Tiramos água de pedra, e na minha humilde opinião, fazemos um puta serviço.
Pelo SUS, hein? Esse mesmo que vira e mexe é malhado pela imprensa.
Um exemplo que eu vi pela TV: Vila Brasilândia, aqui em São Paulo, um dos bairros mais violentos da cidade, taxa de criminalidade alta. É uma favela horrorosa, que fica ali, perto do centro da Capital. É algo que dá mal-estar em quem é classe média, ver todos aqueles pobres uns perto dos outros num local abjeto, onde se mata por pouco ou nada mesmo.
Pois bem, no meio desse antro de fascínoras ( será? ) tem uma escola pública que é simplesmente referência em todo estado quanto a educação e cidadania.
Escola padrão no meio de bairro violento?? What the fuck??? ( Que merda é essa? Como pode?? )
Sim. A diretora da escola, junto com a Comunidade da Vila Brasilândia ( e por comunidade, entenda-se, pais, alunos, todo mundo ) criou uma referência em educação. Esqueça os colégios particulares, e as escolas públicas desgarradas, onde é terra de ninguém.
O ensino lá, no meio de sujeira, crime, violência, é exemplar.
Tiram água de pedra.
Ah, mas porque eu nunca ouvi falar disso?
Conta quantas escolas particulares tem em SP. Contou? É, tem um monte.
O dito popular diz que escola pública é ruim. Então, teoricamente, uma escola particular, onde você paga pra estudar ( atente esse detalhe ) é melhor.
Bem, essa escola pega esse dito popular e joga ele no lixo.
Agora, imagina uma coisa: e se isso saísse num Jornal Nacional da vida? E se todo mundo caísse em si que ensino pago é diferente de ensino de qualidade?
Muita gente por aí, que paga anúncio em comercial de TV ia se foder.
E definitivamente, isso não é interessante para esse pessoal.
Interesse de poucos em cima do que seria bom para todos.
Existem mais exemplos por aí, talvez você que me lê seja um desses exemplos, de gente que sem nada, faz mesmo assim.
Tira água de pedra.
Vamos fazer um oceano com isso!
Valeu.

Aprendendo...


A natureza humana não muda. Se alguém fez algo há 10 anos, 10 meses, 10 dias, o ato será repetido de novo em algum momento.
E de novo, de novo, e de novo.
Na verdade, o ser humano peca pela falta de racionalidade.
E como sabemos, um certo tipo de gente atraí para perto de si gente igual.
Daí é que se fazem as tragédias.
Triste. =(

Edit: O nome é TOYENNE. Não esquecer!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Ciclo


Começa de forma simples. Você gosta de alguma coisa. Qualquer coisa mesmo. Um desenho animado específico, um tipo de comida, um lugar, uma pessoa, uma condição, pode ser qualquer coisa mesmo.
Certo, você gosta daquilo. Aquilo lhe dá um prazer tremendo. Entenda por prazer aquela sensação de bem-estar, que faz com que nós pensemos " Ah, me sinto bem com isso. "
As vezes, nem é percebido conscientemente, quer dizer tu não chega a pensar o que está acima, você não percebe, mas sempre que você faz aquela coisa, vem o sentimento de prazer. Dá no mesmo.
Então, o prazer que sentimos é bom, gostamos daquilo. Queremos sentir aquilo sempre, se possível for.
Aí começa o ciclo.
Você foca naquilo, no objeto de prazer, seja de forma consciente ou não, você começa a procurar aquilo sempre, a todo tempo.
Passa a ser o mote, a razão da sua existência.
Nesse ponto a pessoa se inebria com o prazer e fica irremediavelmente perdida nesse ciclo vicioso. Não saí mais dele. Melhor dizendo, não quer sair dele.
Oras, se o prazer que está sentindo é bom, porque sair dele, porque ir procurar outras coisas?
A pessoa se acomoda naquele ponto e ali fica, firme e imóvel mais que uma rocha de 700 toneladas.
Nesse estado, a pessoa se fecha e finda por ali.
Exemplos práticos desse exemplo podem ser vistos e observados em muitos lugares e pessoas diferentes, pode-se mudar o foco do prazer, mas o processo é o mesmo, com pouquissímas variações.
Outra possibilidade é a pessoa esgotar a fonte de prazer ( sim isso ocorre com mais frequência do que parece ).
Usa-se tanto, se obtém tanto prazer daquilo, que uma hora aquele prazer não tem mais o mesmo brilho, a mesma graça de outrora. Ou como costuma-se dizer, se enjoa.
A maioria das coisas atreladas ao capitalismo moderno seguem essa fórmula, gerando um ciclo eterno de procura, esgotamento / saturamento e nova procura por algo similar.
Claro, pode acontecer de, no meio do caminho desse processo, ficarem pessoas saudosas do prazer que essas coisas lhe davam, nesse caso, um retorno sazonal ( de tempos em tempos ) dessas coisas mais velhas, mesmo que com coisas novas rolando em paralelo, ajuda a agradar gregos e troianos.
E aí? O que te dá prazer? Um anime, um ator de cinema, um escritor, uma pessoa em particular?
Você está no ciclo que eu citei acima?
Pensa em sair?
Não responda isso pra mim, não sou consciência de ninguém, salvo de mim mesmo.
Certas respostas devem ficar para você mesmo.
É isso. =)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Olhe ao Redor




Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Sobre a autora:
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, mas viveu no Brasil desde os dois meses de idade. Suas obras mais famosas incluem Laços de Família, A Paixão Segundo G.H. e A Hora da Estrela. Nos textos, Clarice explora a solidão e a incomunicabilidade humana.

Retirado de http://www.tvcultura.com.br/provoca